20 de set. de 2012

Atendimento (nada) prioritário às pessoas portadoras de necessidades especiais

No final do ano passado - 2010, aquele que agora mesmo era "esse ano" mas que agora é passado - a romaria de compras e lazer nos shoppings, que deixa qualquer um com nervos a flor da pele, pode ser mais estressante se vc estiver acompanhado de alguém com as necessidades citadas ali no título.
Meu filho lindo, Lucas, de 12 anos, é uma dessas pessoas. Caso alguém ainda não saiba, ele tem uma deficiência motora na perna direita , sequela da doença e tratamento que teve aos 3 anos de idade.

Vamos aos fatos:

- Primeiro  e segundo episódios, 21/12/10, uma terça-feira, no Shopping Market Place.
Lucas tem o cartão DeFis, emitido pelo Detran, para uso de vagas especiais para deficientes. Ando com o tal cartão no carro, mas não uso em hipótese alguma se o Lucas não estiver comigo. Como ele estava, me dirigi a área do estacionamento reservada para essas vagas. Eram 12:30, hora de pico de almoço. Não havia vagas especiais disponíveis e Lucas começou com seu discurso: "Duvido que todos esses carros sejam de pessoas deficientes", blá, blá, blá... Sempre digo a ele que não podemos provar, vai da consciência de cada um, fiscalização do shopping ( nula, neste caso), etc.
Vi que um dos carros no corredor seguinte estava saindo e fui na direção da vaga, onde duas madames travavam um bate-boca por causa da tal vaga. Detalhe: nenhuma delas tinham deficientes no carro. Aproveitei que elas discutiam, dei seta, avisei q ia entrar na vaga. Mas tive que por a cabeça e o cartão pra fora  e gritar para que elas me "deixassem" estacionar na vaga a que meu filho tem DIREITO. Uma saiu de fininho, a outra saiu cantando pneu e esbravejando. Estacionamos.

Alguns minutos depois, chegamos a praça de alimentação. Os executivos da região que lá almoçam não estão nem aí se você está com 4 crianças, uma delas deficiente. Ninguém se toca e não havia mesas disponíveis.
Então, eu e minha comadre Ana Paula resolvemos ir ao General Prime Burguer, porque lá as crianças conseguiriam comer sentadas. Chegando no lugar, havia fila de espera e fui falar com a mocinha da porta, a "hostess". Avisei: "Somos em 6 pessoas, sendo 4 crianças e uma delas é deficiente. Vocês tem atendimento prioritário?"
"Lógico, que temos. A próxima mesa que vagar é de vcs, mas terão que se contentar com uma de 4 lugares porque de 6 vai demorar."
Apesar de achar absurdo, fiquei feliz que iríamos nos apertar, mas as crianças iam parar de encher que estavam com fome, etc.
Ouvindo minha conversa com a hostess, a "líder" do grupo de executivos que aguardavam lugar antes de nós, foi lá falar com ela, tomar satisafções. A hostess explicou que se tratava de um grupo com uma criança deficiente. A reação esperada era que a executivazinha pedisse desculpas a hostess, entendesse a situação, certo? Não, errado! Ela voltou ao grupo, revoltada, falando em altos brados: "odeio essa história de atendimento especial para deficientes!"
Meu filho ouviu. Só não fui dar na cara dela, porque no mesmo momento a hostess me chamou dizendo que daria a mesa de 4 lugares a ela porque estava vagando uma de 6 para nós. Além disso, acho que por mais que meu filho tenha direitos assegurados, ele não merecia que eu armasse um barraco com a fulaninha por causa de sua falta de educação e cidadania.

- Terceiro, quarto, quinto, sei lá quantos episódios, 27/12/10, uma segunda feira, no Morumbi Shopping
O Shopping Morumbi é um lugar onde vejo que realmente fazem algo de bom pelas pessoas com necessidades especiais. Estacionamos facilmente numa vaga reservada para deficientes. Nela, há um sensor. Quando o carro estaciona, uma gravação é acionada, avisando ao motorista que aquela é uma vaga reservada para pessoas com deficiência, pedindo que se não for seu caso, procure outra vaga. O único porém, é que na maioria das vezes, a gravação é acionada antes mesmo de abrirmos a porta do carro. Fico na dúvida se as pessoas a ouvem quando deveriam. Enfim, pelo menos há a intenção do shopping em fazer algo.
Fomos ao shopping efetuar algumas trocas de presentes de Natal, começando na C&A. Meu Deus! Essa realmente me tirou do sério!
No setor de trocas, uma fila quilométrica ( e já esperada) para trocar uma bermuda do Lucas. Quando finalmente éramos os primeiros da fila, uma fulana que estava lá há muito tempo, lembrou de me avisar que antes de mim, tinha uma amiga dela na fila para a qual ela estava guardando lugar.
"Sinto muito. Não era nem para nós estarmos na fila, se esta fosse uma loja que respeita direitos dos deficientes. Eu sou a próxima, com meu filho."
A tal amiga, se desculpou, voltou para o fim da fila, mas a talzinha que me avisou fez cara feia.
Cheguei no caixa e questionei a atendente sobre o atendimento prioritário, pois não havia guichê especial, nem uma placa sequer alertando sobre como proceder. Ela respondeu:
"É, né? Aqui não tem...só no caixa..." Aí, entrei com meu discurso politicamente correto que nem eu mesma aguento mais. São quase dez anos falando a mesma ladainha mas parece que ninguém tá nem aí!

Lucas escolheu a nova bermuda, experimentou e uma nova e extremamente longa e demorada fila nos aguardava. Nos dirigimos a fila de atendimento preferencial, que tinha uma senhora (quase) idosa e uma moça de pé engessado na nossa frente. O caixa estava vazio, ninguém soube dizer porque. Os outros caixas olhavam, veio supervisor, mas ninguém chamava as pessoas da fila espeical para serem atendidas antes, na fila normal.
Por cerca de 20 minutos, era assim que estava o caixa de atendimento preferencial da C&A:

VAZIO!!!!
Bom, finalmente após 20 minutos apareceu um mocinho para atender no caixa especial. Chegando na minha vez, aquela moça que a amiga guardava lugar no setor de trocas, que não era gestante nem idosa, chega com a filha nada deficiente, (a menina q aparece de costas atrapalhando minha foto) e tenta entrar na fila especial. Ah, meus amigos...Não deixei. Mandei ela se dirigir a fila certa, porque mil blá blá blás....

Enfim, chegou minha vez e explodi com o mocinho do caixa. Não é por mim. É por quem tem direito de ter esse atendimento especial. Enfim, ele me atendeu e disse que se ausentou do caixa por mais de 20 minutos para ir buscar troco (!). Pra completar, o infeliz não queria colocar meu cpf na nota fiscal porque se tratava de uma troca. MAAAAS, eu estava levando mais uma peça e ia pagar por ela. Enfim, ele colocou o cpf. Ai dele se não colocasse.

- Último episódio, 06/01/11, quinta-feira , Espaço família (banheiro) do Shopping Morumbi
Realmente gosto muito do Shopping Morumbi. Lá tem tudo - lojas, alimentação, lazer e, principalmente, acessibilidade.
Antes mesmo da deficiência do Lucas, já utilizávamos o Espaço Família, onde há, além da área para amamentação, alimentação e troca de bebês, banheiros adaptados para crianças, onde podemos entrar junto e banheiros para deficientes bem adaptados.
Fomos lá após assistir Enrolados no cinema do shopping, com as crianças.
Lucas queria utilizar o banheiro adaptado, mas uma moça avisou que estava ocupado, apesar da porta aberta. Sua filha estava usando porque não havia nenhum deficiente usando na hora em que ela chegou. Tadiiiinha! Ela não notou que tinham mais dois banheiros "normais" ali, para ela usar. Sugeriu que meu filho usasse o mesmo porque a menina já estava lavando as mãos. (!!!!!) Ninguém ensinou pra essa cidadã regrinhas básicas de higiene, cidadania, prevenção a violência, etc? Ela sugeriu que meu filho usasse o sanitário junto com a filha dela! Gente, eu sou quadrada demais! Apenas falei que não, que meu filho usaria o banheiro depois, já que ela não sabia respeitar o uso do banheiro adaptado, certamente por não ter nenhum deficiente na família dela, pensei.

Saímos do banheiro, debatendo sobre isso. Alê me lembrou que mesmo antes de nosso filho se tornar deficiente, de vivenciarmos isso tudo, nunca fomos capazes de usar vagas, filas e banheiros inadequadamente.

Acredito que o que realmente falta a grande parte da população, é EDUCAÇÃO. Mais nada a declarar.


2 comentários:

  1. Renata! Com certeza, vc ja passou varios perrengues, e teve que se conter, pelo descaso alheio. Mas tenho certeza, que sempre foi atrás dos direitos que são reservados ao Lucas.
    Infelismente, vejo em várias situações, portadores de deficiencia fisica, e ou idosos, se omiterem dos seu direitos, por MEDO , na maioria das vz, até de passar por humilhação. Brasileiro, definitivamente, não tem educação!!!
    Eu ja "briguei" um bocadinho pelo direito alheio!
    Mas o bom disso tudo, no seu caso, é que o Lucas tem um bom exemplo....que é o seu!
    Parabéns!

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  2. Não me perguntem como esse post veio parar aqui de novo...Foi publicado em janeiro de 2011...acrescentando os marcadores, alguma coisa deve ter saído do lugar e ele foi postado novamente...rss Sorry!

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